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terça-feira, 28 de julho de 2009

FSP- Restaurante

São Paulo, quinta-feira, 17 de junho de 2004


Drible a neura
Como escapar da saia justa no restaurante
GUSTAVO PRUDENTE FREE-LANCE PARA A FOLHA

Duas pessoas estão almoçando e, do nada, aparece um conhecido que se aboleta na mesa sem ser convidado, monopoliza a conversa e, se bobear, ainda faz perguntas e comentários indiscretos. Difícil imaginar um restaurante que não tenha sido palco de uma saia justa desse tipo, que acontece quando alguém, mesmo na tentativa de ser gentil e simpático, invade o espaço do outro.Uma das regras básicas da boa educação é não ser inconveniente. Mas é mais fácil quebrá-la em locais onde o público e o privado se misturam, como restaurantes e bares. "São ambientes mistos: ao mesmo tempo em que há a convivência entre desconhecidos, existem barreiras que restringem o acesso ao local e aos seus freqüentadores", afirma a antropóloga Janine Collaço.

Uma dessas barreiras é a mesa, que delimita um espaço próprio, particular. Respeitar esse "território" não significa apenas ser bem-educado. É um meio de preservar a individualidade de todos.Para não atropelar a individualidade alheia e não correr o risco de parecer mal-educado, a discrição é a melhor saída. Em um encontro casual, um aceno com a cabeça, de longe, é suficiente para cumprimentar alguém. Se, por algum motivo, a situação exigir uma aproximação maior, a orientação é: "Seja breve".
"Chegue dizendo que não quer incomodar e que só passou para "dar um oi", por exemplo. Não estique a mão, beije ou abrace. Muito menos faça a pessoa se levantar", diz a antropóloga e consultora de etiqueta Lígia Marques.
A regra tem até um componente "higiênico". De acordo com Lumi Toyoda, pesquisadora de cultura e etiqueta japonesa e ocidental, não se devem trocar apertos de mão com pessoas que estão sentadas, porque se pressupõe que elas já estejam de mãos lavadas.Uma abordagem rápida e sem muita gesticulação evita constrangimentos e também desastres como derrubar copos e cadeiras, trombar com o garçom ou sujar a roupa alheia.
A empresária Bianca Marchiori, 24, passou pelo mal-estar e, para completar, teve sua bolsa "atropelada".Bianca estava com dois amigos em um restaurante quando um rapaz passou pela mesa e parou para cumprimentá-los, mesmo sem conhecer nenhum dos três. Era uma paquera. Vendo uma cadeira aparentemente vazia, o desconhecido sentou-se -sobre a bolsa de Bianca-, apoiou seu copo na mesa e começou a desfiar seu charme, impedindo-os de trocar confidências, que era o objetivo do encontro.Além de falta de traquejo social, o não-cumprimento de regras sociais básicas pode indicar uma atitude narcisista. "
O inconveniente confunde simpatia com egocentrismo", afirma a psicóloga Luciana Elias. Para ela, esse tipo de comportamento está ligado à falta de assertividade, que é a habilidade de expressar necessidades, sentimentos e desejos de forma clara e direta. "A assertividade é o equilíbrio entre o passivo -a vítima- e o ativo -o agressivo."Uma pessoa inconveniente, explica Elias, costuma ser do tipo agressivo, o que não significa que ela grite ou dê murros na mesa. O que ela faz é priorizar seus desejos em detrimento das vontades e das necessidades dos outros. "O tipo agressivo se esquece de olhar a situação como um todo. Quando vai cumprimentar alguém num restaurante, por exemplo, não pensa se a pessoa está numa reunião ou numa conversa íntima."É o contrário do que fazem as vítimas, que priorizam o desejo do outro. "A pessoa passiva não consegue demarcar território, por isso pode achar que o outro está sendo inconveniente porque ela mesma não conseguir fazer que os demais respeitem sua fronteira", diz a psicóloga.Quando as pessoas se sentem invadidas, elas tendem a marcar seu território por meio de atitudes inconscientes. Na mesa do restaurante, por exemplo, o "incomodado" pode colocar um prato, um guardanapo ou outro objeto na frente, como se fosse uma barreira contra o intruso. Em seguida, vêm as ações conscientes, como ignorar o impertinente, conversando com outra pessoa.Segundo a psicóloga, o problema é que os intrometidos geralmente possuem mecanismos inconscientes que bloqueiam o entendimento do mal-estar ou da rejeição do outro, mesmo quando há sinais claros disso.
O ator André Bicudo, 32, sinalizou seu descontentamento, mas não funcionou. Ele convidou uma mulher que havia conhecido numa festa para almoçar. Assim que se sentaram à mesa, um antigo amigo dela apareceu, instalou-se e, com o cardápio na mão, disse: "Vou aproveitar que vocês já têm mesa, porque a fila de espera está longa e estou com pressa".André começou a ficar irritado e, depois de 15 minutos, deixou deliberadamente a simpatia de lado. "Fechei a cara." Mas a tática não adiantou. Pior: o intruso se esqueceu da pressa. "Até cafezinho ele fez questão de tomar."Encontros casuais como o que "azedou" o almoço de André são mais comuns do que se pode imaginar. Segundo os especialistas em relações sociais, pessoas de mundos próximos costumam freqüentar o mesmo tipo de ambiente, portanto as chances de encontrar um ex-colega de faculdade ou do trabalho no seu restaurante favorito são razoáveis. Como não é um evento raro, o encontro acidental não justifica uma quebra de protocolo. Agir de acordo com as regras de bom convívio social é a opção mais satisfatória para todos.

Colaborou Mariana del Grande, free-lance para a Folha

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