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terça-feira, 27 de julho de 2010

Escutar conversa alheia não é nem nunca foi um comportamento
 recomendado pela etiqueta, mas às vezes isso acaba
sendo inevitável.


Estava eu no salão de beleza quando ao meu lado uma senhora
 contava à sua manicure sobre sua filha de 19 anos:

" A Marina? Está ótima, obrigada! Já recomeçaram as aulas
na faculdade dela e ela está muito feliz! Disse que estava com
saudades da escola, cansada das férias..."

Que bom...pensei comigo mesma...não é toda garota que gosta
de estudar...uma preocupação a menos para esta mãe...

E ela continuou:


" Todo dia eu acordo às 6 horas para poder chamá-la para se preparar para sair para a aula que começa às 9h".


Seis horas? Nove horas? Estranhei, mas continuei a ouvir a conversa, já que não podia evitar.


" É um trabalhão! Acordo às 6, começo a acordá-la e ela fica sentada na cama até as 7:30/8h de olhos fechados com aquela preguiça...demora tanto que mesmo assim quase perde a hora todos os dias. Eu levanto, chamo a Marina, faço seu lanche, coloco na sua bolsa e lá está ela ainda sentada na cama...às vezes sai sem tomar café da manhã de tanto que demora para se levantar...hoje mesmo nem fui fazer minha caminhada,pois tenho medo de sair e ela voltar a dormir e perder a aula das 9h".Todo dia é assim...menina difícil de levantar da cama, mas é uma boa filha...então, deixa ela. Está ótimo assim.Não tenho do que reclamar."

Fiquei absolutamente pasma! Uma garota de 19/20 anos que precisa que a mãe a chame todos os dias para se levantar da cama sob pena de perder a aula?! Se a mãe não fizer todo este ritual diário ela perde a aula e ainda fica sem lanchinho para comer no intervalo? E a mãe acha que está "tudo bem"?!


Com que idade esta mãe pretende que a filha assuma suas responsabilidades mais básicas? O que acha que lhe está ensinando com este tipo de super proteção? Que tipo de mulher está sendo criada com estas atitudes maternas?

Atitudes deste tipo,porém, hoje em dia são bastante comuns.Pais que superprotegem seus filhos evitando que cresçam e assumam as responsabilidades que a vida lhes reserva é um fato corriqueiro.


Pais que não deixam seu filho de 16 anos pegar um ônibus para ir ao clube,pois isso pode ser perigoso demais.


Nenhum pai ou mãe gosta de ver seus filhos sofrerem e com esta meta a ser cumprida a qualquer custo acabam por retirar-lhes qualquer possibilidade de viverem uma situação de desconforto, suprimem-lhes as oportunidades de adquirem alguma experiência necessária para que sejam adultos preparados para enfrentarem os desafios da vida,mantendo-os sob sua guarda e proteção indefinidamente.


Infelizmente, o resultado disso tudo não será a geração de filhos maduros e responsáveis, prontos a enfrentarem os problemas que certamente virão no decorrer de suas vidas,mas sim eternas e frágeis crianças que ao menor sinal de contrariedade sucumbirão num mar de depressão só controlada com uma cada vez mais nova e moderna farmacopéia, já que nunca foram expostos às interpéries mais leves do dia a dia. Contrariedades e tristezas fazem parte da vida de qualquer pessoa e não adianta tentar evitá-las. O que temos é que ensinar nossos filhos a lidarem de forma emocionalmente madura com estas situações desagradáveis,para o próprio bem deles. Estar ao lado deles ensinando-os a como superar os desafios é o papel mais importante dos pais. Protegê-los em demasia e guardá-los numa redoma inatingivel pela realidade é uma ilusão que mais cedo ou mais tarde lhes trará sérias consequencias.

Fiquei com muita vontade de me intrometer na conversa e perguntar à esta mãe se ela não achava que já era hora de delagar à filha ao menos a ridícula responsabilidade de ouvir um despertador tocar e se levantar. Mas assim como não se deve ouvir conversas alheias, não devemos nos intrometer nelas sem sermos chamados a isso. Regra básica de etiqueta.


Assim,respirei fundo, lamentei por esta garota ter uma mãe tão involuntariamente cega e pensei: pois é,cada um com seus problemas.Fui secar meu cabelo e cuidar da minha vida!